Devemos analisar o porquê de pensarmos como pensamos, individualmente e em grupo, da forma mais simples possível.
A influência, a manipulação das sociedades que sempre existiu desde o primeiro homem, só se torna grave quando um dos lados domina os meios para tal. Quando isso acontece, em pouco tempo, quase todos passamos a pensar da forma considerada correta, o que pode incluir defender aquilo que nos prejudica sem termos noção de tal. Um bom exemplo da mudança na nossa forma de ver e estar no mundo é o nosso posicionamento em relação ao tabaco. Passámos do fumar em todo o lado, para o não fumar ou só o fazer sobre restrições muito rígidas.
A janela de Overton é um conceito muito interessante, que representa a janela pela qual eu vejo o mundo, o que eu tolero ou não. O que me faz sentir bem, o que me indigna, o que me faz lutar por uma causa e rejeitar uma outra… Todas essas certezas, convicções, ideias vão mudando ao longo do tempo, muitas vezes de forma radical e isso só acontece porque alguém me faz ver o mundo de uma outra forma. Às vezes é uma coisa positiva e útil, outras nem por isso.
Desde o aparecimento dos primeiros homens que sempre alguns tentam controlar a informação e assim influenciarem os outros a seu favor. Por interesses pessoais, por poder ou porque pura e simplesmente isso os entusiasma. Até há relativamente pouco tempo, os meios de comunicação social mainstream e as elites tinham à sua disposição todas as ferramentas necessárias para mudar as sociedades da forma que melhor lhes aprouvesse. Isso incluía as universidades, as associações, os movimentos, as ONGs, os políticos, etc. Mas a internet aparece, faz-se redes sociais, expande-se, torna-se omnipresente, e o mundo como uma criança aos tropeços e quedas, começa a tentar dar os primeiros passos, na gestão de informação e opinião não editada, ou editada à medida de quem a difunde. As ferramentas da mudança e da evolução, passaram em parte para as mãos da população. Pela primeira vez na história da humanidade o chamado povo fica com acesso às verdades, a todas, e não só às que as chamadas elites queriam e difundiam. Com tudo o que isso tem de bom e de mau.
Mas nem tudo é perfeito, nas redes sociais, as várias verdades a que acedemos, controladas pelos algoritmos, existem em bolhas praticamente isoladas, de concordância, em bolhas de pensamento uniforme. Quase só vejo aquilo com que concordo e com o qual me identifico. Isso faz nascer em mim estranheza, intolerância, ódio, quando no mundo real me deparo com quem não pensa como eu.
Infelizmente, uma sociedade só progredirá e será democrática e livre, se viver em ambientes fervilhantes de ideias, umas iguais, outras opostas e outras só diferentes. Numa sociedade livre, deve-se poder dizer e discutir tudo, por absurdo que tal pareça.
Tive uma situação onde o RAP me ridicularizou no seu programa “isto é gozar com quem trabalha”, a minha reação foi simples: É humorista, tem todo o direito de “gozar” comigo, apesar da gigantesca diferença de meios e eu não me poder defender na mesma proporção. Isto, claro, desde que o RAP respeite os limites da lei. No final até foi positivo para mim, vivi 2 semanas como uma personalidade pública, aqui na margem sul.
As elites que são quem define as regras do jogo numa sociedade, tentaram e tentam, muitas vezes apenas a seu favor, que o pensamento seja único. Só a narrativa oficial, só esse modo de ver e viver é aceitável. Só esse moralismo e moral são permitidos, mesmo que inclua duplos critérios escandalosamente injustos. Para que o controle seja efetivo, todas as discordâncias são “pecados” e têm uma penalização. Pode ser a excomunhão social, política, profissional e de lugar de fala. Insultos, desprezo e ódio em palavras e atos sem limites são tolerados, desde que sobre o desalinhado.
Alguns políticos e afins, hoje sobretudo a esquerda, têm ações de influência, controle e medo, altamente eficientes e eficazes. Têm uma caixinha cheia de maldades. Escolhem um alvo, que pode ser uma instituição ou uma pessoa. Tiram uma maldade da caixinha, sem preocupação com a verdade. Na propagação, toda a comunicação social faz de caixa de ressonância. O pobre cidadão que ouve estas maldades, não tem capacidade, nem tempo, nem paciência, para investigar se realmente aquelas informações, são verdadeiras, ou justas. E pensa, como o Homer Simpson: Se toda a gente, se por todo o lado, todos dizem o mesmo, quem sou eu, para o colocar em causa? E também ele, simples cidadão, como idiota útil, entra no ataque e difunde o que ouviu.
E é esta a grande luta, a da influência na mudança da forma como vemos o mundo, o que aceitamos e o que não aceitamos. Tal, é essencial para quem quer dominar a sociedade, ter poder e/ou fazer bons negócios.
Hoje, o mundo é pequeno em termos de informação, e o jogo é planetário, daí a ferocidade da luta. Como nos defendemos? A Internet tem as respostas todas, algumas certas e outras erradas, mas elas estão lá. Se pesquisarmos um pouco, sobre aquilo que se fala, no dia a dia, chegaremos a conclusões incrivelmente interessantes. Andam a tentar enganar-nos!
Os Americanos foram inteligentes ao criarem um sistema de “checks and balances”, não deixando o poder absoluto num só lado.
A existência de órgãos de comunicação social, não isentos porque tal não é possível, mas plurais, como o Observador, é essencial.
A defesa de uma sociedade forte e interventiva na vida pública.
A defesa da liberdade de expressão, incluindo a liberdade na Internet, deve ser uma realidade central das sociedades.
Vivi quase toda a minha vida profissional fora de Portugal, em contacto com outras culturas, com outras formas de viver e estar.
O melhor que podemos fazer por nós próprios é viajarmos, vermos e vivermos mundo. É envolvermo-nos com outras culturas, com outras formas de viver e de estar. Só assim abrimos horizontes e percebemos como somos diferentes uns dos outros e que isso não tem mal nenhum.
Desta guerra tive pela primeira vez consciência nos meus tempos de Brasil, em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, com o Luciano Pires e outros.
2025-07-05T23:18:20Z