PROTETOR SOLAR CASEIRO ESTá VIRAL NO TIKTOK. MéDICA ALERTA PARA OS RISCOS

Nara Smith, modelo e influenciadora, ensinou os seguidores a fazer protetor solar caseiro. É eficaz e seguro? Quais são os possíveis riscos? Falámos com Marta Ribeiro Teixeira, médica especialista em dermatologia da Clínica Espregueira, no Porto, e esclarecemos todas as dúvidas.

Surgem quase todos os dias novos truques que prometem facilitar a vida de todos no TikTok, mas, infelizmente, alguns não têm o 'selo de aprovação' de especialistas. Por exemplo, recentemente, Nara Smith, modelo e influenciadora, ensinou os seguidores a fazer protetor solar caseiro.

 

Entretanto o vídeo, ainda disponível na rede social, acumulou mais de 20 milhões de visualizações e dois milhões de gostos. Muitos questionaram a eficácia e, ao longo dos últimos dias, especialistas alertaram para os possíveis perigos de usar um protetor solar caseiro.

Tendo isto em conta, o Lifestyle ao Minuto decidiu esclarecer todas as dúvidas e falou com uma dermatologista, Marta Ribeiro Teixeira, sobre os possíveis riscos e ainda pediu dicas para conseguir escolher o melhor e mais seguro protetor solar quando faz compras.

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Protetores solares caseiros não oferecem proteção suficiente e não são testados em questões de segurança, tolerabilidade e durabilidade e não devem, de forma alguma, ser utilizados

É uma boa ideia fazer protetor solar caseiro como neste vídeo? Protegem mesmo a pele? 

Não!!!! É uma péssima ideia. Por vários motivos e o principal é que não protegem a pele contra os efeitos nocivos da radiação ultravioleta (UV). O processo do desenvolvimento e criação dos fotoprotetores disponíveis no mercado demora vários anos, é regulamentado, segue critérios muito rigorosos e são testados quer 'in-vitro' quer 'in-vivo'.

Isto significa que os protetores solares comercializados são testados em termos da sua segurança, tolerabilidade, estabilidade das moléculas ao longo do tempo e eficácia na fotoproteção contra a radiação UV. Pelo contrário, os protetores solares feitos em casa não foram testados relativamente aos critérios anteriormente mencionados.  

Foi realizado um estudo científico, em que os autores analisaram quinze formulações de protetores solares caseiros recomendados nas redes sociais. Os investigadores chegaram à conclusão de que alguns destes protetores não tinham qualquer fotoproteção e que os restantes apenas ofereciam uma proteção solar muito baixa, a maioria deles com um SPF de 6 ou inferior. De relembrar que é recomendado o uso de SPF sempre superior a 30+, idealmente até 50+. 

Protetores solares caseiros não oferecem proteção suficiente e não são testados em questões de segurança, tolerabilidade e durabilidade e não devem, de forma alguma, ser utilizados.

  É médica especialista em dermatologia da Clínica Espregueira© Marta Ribeiro Teixeira  

Esta moda do uso de protetores solares caseiros surgiu em resposta a preocupações de segurança ambientais e para a saúde. Importa aqui referir que nenhum estudo, até à data, demonstrou eventuais efeitos negativos na saúde com a utilização de protetores solares e que o seu uso continua a ser recomendado. 

Quanto às questões ambientais, estas prendem-se com o facto de, 'in-vitro', a oxibenzona (filtro solar químico), quando exposta à radiação UV, poder danificar e branquear os corais. Se estes efeitos observados em laboratório também acontecem ao nível dos corais nos oceanos ainda está por esclarecer. Contudo, para quem tem preocupações sobre o eventual impacto negativo do uso de protetores solares ao nível da saúde ou ambiental deve optar por protetores solares minerais porque estes serão nesses casos, sem dúvida, mais seguros. 

No fundo o uso de fotoproteção eficaz é fundamental na saúde na nossa pele. Os protetores solares atualmente disponíveis do marcado são seguros e eficazes. O uso de protetores solares caseiros é obsoleto e perigoso para a saúde. 

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Quais são os potenciais perigos? 

Tendo em conta que os protetores solares caseiros não oferecem uma proteção eficaz contra a radiação ultravioleta do tipo A e B acarretam riscos para a pele a curto e a longo prazo.

Por exemplo, a curto prazo o alto risco de queimaduras solares, mas também possíveis reações alérgicas e tóxicas ao sol e aos seus próprios componentes. Isto porque as substâncias na sua constituição não foram testadas, quer em termos de concentração, quer em termos de compatibilidade entre elas. 

Já a longo prazo, a falta de fotoproteção eficaz com o uso destes protetores caseiros leva ao envelhecimento precoce da pele, formação de manchas e aumenta o risco de desenvolvimento de todos os tipos de cancro de pele, inclusivamente o risco de melanoma.

Que tipo de ingredientes e utensílios exige a produção de um protetor solar que não temos em casa?  

A maioria dos protetores caseiros baseia-se na mistura de óleos (por exemplo de coco) com o óxido de zinco, um conhecido filtro solar. Em teoria isto poderia correr bem. Na prática não. A mistura destes ingredientes é difícil, exige material normalmente apenas disponível em laboratório e os produtos daí resultantes resultam numa mistura heterogénea e instável. Alguns dos óleos usados chegam a ter o efeito oposto e serem fotossensibilizantes, aumentando o risco de queimadura solar com a sua utilização. 

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Fotoprotetores devem ser usados durante todo o ano e reaplicados a cada duas horas 

Que tipo de protetores solares recomenda? Tem dicas para escolher um? 

Existem protetores solares minerais, químicos e outros que contêm a combinação de ambos. A escolha de qual o tipo de filtro vai depender de preferências pessoais (devido à sua diferente cosmeticidade) e da presença ou ausência de determinadas patologias.

De ressalvar que em grávidas, pessoas a amamentar e crianças com menos de 24 meses devem ser usados protetores solares com filtros exclusivamente minerais, como são exemplos o óxido de zinco e o dióxido de titânio. Esta informação está normalmente presente nos rótulos. 

De uma forma geral, os protetores solares devem ser hipoalergénicos, resistentes à água, com fator de proteção elevado (FPS/SPF 50+), oferecer proteção contra UVB, UVA e UVA-longos. Deve ser dada preferência a texturas leves e de fácil aplicação, uma vez que isto permite uma aplicação mais uniforme.

Outra questão não menos importante é que os fotoprotetores devem ser usados durante todo o ano, reaplicados a cada duas horas (também após banho ou transpiração) e em quantidades suficientes. Neste caso referimo-nos à quantidade de 2mg/cm2 de superfície de pele. Em termos práticos isto corresponde, por exemplo, a uma colher de chá para o rosto, onde usámos frequentemente o exemplo da 'regra dos dois dedos', ou seja, um fio de protetor solar que ocupe os dedos médio e indicador. 

Por fim, pessoas com determinadas características ou problemas de pele podem escolher protetores solares com ingredientes que melhor se adaptem ao seu tipo de pele. É o caso do uso de protetores solares ditos 'oil-free' (sem óleos e não comedogénicos) em peles oleosas ou acneicas, mas existem no mercado protetores solares adaptados a todos os tipos e de pele e patologias. 

Protetores solares com cor são seguros e ajudam-nos na proteção contra a luz visível

Tem mais dicas úteis? 

Uma dica que gostaria de deixar é relativa ao uso de protetores solares com cor. Muitos dos meus pacientes questionam se é seguro e se podem usados. Sim, claro que sim!

Protetores solares com cor são seguros e ajudam-nos na proteção contra a luz visível. Deixo aqui uma pequena ressalva. Se tivermos em conta a quantidade de protetor solar recomendada (regra dos 2 dedos para face ou os 2 mg/cm2), ao aplicarmos essa mesma quantidade de protetor solar com cor no rosto vamos muito provavelmente ficar com um tom de pele demasiado claro ou escuro, mediante a cor do protetor solar usado. O risco de colocarmos uma quantidade insuficiente de protetor solar quando usamos fotoproteção com cor é, por este motivo, mais elevado.

Para usarmos protetor solar com cor de forma segura, eficaz e com um resultado estético agradável deixo aqui uma dica útil: usando na mesma a 'regra dos dois dedos', mas misturar um protetor com cor e outro sem cor, ou seja, um dedo de cada um. Desta forma é usada a quantidade correta de protetor solar, mas com um bom resultado estético.  

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