UMA RELAçãO FORTE PRECISA QUE OS PARCEIROS RESPONDAM AOS "PEDIDOS DE LIGAçãO" UM DO OUTRO. MAS O QUE é QUE ISSO SIGNIFICA?

"Está ali um pica-pau!", Alyssa Caribardi viu a sua amiga virar a cabeça para olhar pela janela e procurar o pássaro. E com esse simples gesto, Caribardi soube que a sua amizade iria durar.

No que pode parecer uma pequena troca de palavras quotidiana, a reação da amiga foi um indicador importante da sua relação: ela tinha respondido ao "pedido de ligação" de Caribardi, um termo cunhado por especialistas em relações do Instituto Gottman, em Seattle, EUA.

A sua interação pode não parecer importante para quem está de fora, mas Caribardi tinha dado a alguém próximo dela a oportunidade de se relacionar e a sua amiga tinha correspondido.

"As propostas de ligação são quando um parceiro se dirige ao outro para manifestar interesse, conversar ou exprimir uma necessidade", afirma Julie Schwartz Gottman, psicóloga clínica que tem investigado casais e casamentos duradouros juntamente com o seu marido, John Gottman, há mais de 40 anos. "Dependendo da forma como o parceiro responde, a relação ou é bem-sucedida ou não é tão boa”.

As demonstrações podem ser verbais ou físicas, como apontar um pássaro numa árvore, repetir algo ouvido na TV, pedir conselhos ou até mesmo simplesmente dirigir um sorriso à outra pessoa. O facto de a oferta ser grande ou pequena não importa - o que é importante é a resposta da outra pessoa, diz Schwartz Gottman.

E não é apenas importante que os casais conheçam estas oportunidades de ligação - também afeta as relações entre pais e filhos, as amizades e até os laços comerciais, observa

Como reconhecer uma "proposta de ligação"?

A base das "propostas de ligação" provém da investigação "Love Lab" dos Gottmans, que teve início em 1986 e acompanhou casais durante seis anos. No final desse período, verificou-se que os casais que continuavam juntos respondiam às propostas um do outro em 86% das vezes, enquanto os que se separavam apenas respondiam em 33% das vezes.

Caribardi conhece essa sensação. A mulher, natural de Leander, no Texas, diz que achou o pica-pau muito giro, em parte porque nunca o tinha visto antes. Mas a parte divertida foi o interesse recíproco da sua amiga, que se transformou numa sessão de pesquisa profunda no Google sobre a ave.

"Podemos falar literalmente sobre tudo e mais alguma coisa - uma parede de tijolo pode falar connosco. E o pica-pau mostrou-me isso", continua Caribardi. "Mas mesmo que ela apenas dissesse, tipo, 'Oh, sim, isso é muito fixe', isso é literalmente a única coisa de que precisamos. Apenas alguém que reconheça o que estamos a dizer".

Caribardi publicou a sua experiência com o pica-pau no TikTok em outubro, referindo-se à mesma como "o teste do pássaro", juntamente com outras pessoas que recorreram à aplicação para contar a sua experiência de dar pequenos impulsos - como apontar pássaros interessantes - aos seus amigos e parceiros.

Schwartz Gottman explica que este teste é um bom exemplo da importância de "virar-se para" um parceiro, uma das três respostas que alguém pode ter a um impulso. Se um parceiro responde, mesmo com um simples reconhecimento de que a outra pessoa foi ouvida, é a melhor e mais benéfica resposta a ter. Se o parceiro ignorar a outra pessoa e não tiver uma resposta verbal, chama-se a isso "virar costas".

Mas a pior resposta é o que Schwartz Gottman chama de "virar contra", que acontece quando há hostilidade em relação ao impulso. Os parceiros podem responder com um comentário do tipo "para de interromper o que estou a fazer" ou outra variação que diga à outra pessoa que ela não se importa.

"A maioria de nós, no final do dia, quer ser vista, compreendida e sentir-se importante. E assim, quando há demasiadas interações que não são vistas ou são rejeitadas, isso faz com que nos sintamos o oposto: invisíveis, sem importância, incompreendidos", diz Lauren Fogel Mersy, psicóloga licenciada e terapeuta sexual sediada no Minnesota. "Se isso acontece com mais frequência, começa a corroer a conexão, a segurança e a confiança num relacionamento.

O que fazer quando o seu parceiro quer estabelecer uma ligação?

Embora estes impulsos pareçam ser cruciais num relacionamento, ninguém é perfeito e não se deve esperar que responda o tempo todo, diz Fogel Mersy. "Só se pretende um rácio de respostas mais positivas do que negativas”.

Se alguém reparar que um parceiro falhou ou falha continuamente uma ligação, Fogel Mersy recomenda que se comunique a intenção de chamar a atenção dizendo: "Ei, essa foi a minha maneira de tentar estabelecer uma ligação contigo" ou "estou a tentar conversar contigo ou obter alguma atenção da tua parte, agora é uma boa altura?"

Fogel Mersy também recomenda que as pessoas se tornem mais conscientes das suas próprias respostas quando os parceiros interagem e até perguntem diretamente aos seus parceiros se sentem que estão a receber respostas aos seus pedidos de atenção. Quanto mais direta for a pessoa em relação à sua intenção, maior é a probabilidade de ser correspondida, acrescenta.

Não há problema se uma pessoa reparar que um parceiro está a estabelecer uma tentativa de ligação, mas não se sente com vontade de o fazer no momento, talvez porque está muito cansada ou tem muito em que pensar. Schwartz Gottman recomenda que se comunique esses sentimentos direta e honestamente ao parceiro, em vez de se atacar com uma resposta de "virar contra".

Na maior parte das vezes, se a resposta for positiva, não importa se a interação é grande ou pequena, mas se for negativa, o "virar as costas" ou o "virar contra" pode causar danos emocionais reais na relação", diz Schwartz Gottman. A conclusão é "que voltar-se para o outro é realmente a base de uma boa e forte amizade - e também da paixão e do romance".

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