E SE O LEãO DE VENEZA, AFINAL, TIVESSE UMA COSTELA CHINESA?

O famoso leão de Veneza é um dos símbolos característicos de um dos quatro evangelistas: São Marcos. A ligação de Veneza com o autor de um dos quatro Evangelhos canónicos fez com que a capital da região do Veneto aceitasse simbolicamente o leão de São Marcos como representação da sua cidade

No brasão original, o leão de Veneza segura o Evangelho entre as patas dianteiras e uma bênção escrita em latim, que foi estendida a todos os habitantes da cidade à qual o evangelista tinha dado a sua protecção. Diz: “A paz esteja convosco, Marcos, meu evangelista”. 

O leão alado simbolizava também a força e a rapidez com que a Sereníssima República de Veneza abria as suas asas sobre o mar e atacava os seus inimigos com a força de um leão. De facto, em muitas culturas, o leão é um importante símbolo de força e poder.

A origem da famosa estátua do leão veneziano, símbolo universal da cidade de Veneza, há muito que intriga os investigadores. E parece que a resposta a este enigma foi agora encontrada.

Uma equipa de investigadores da Associação Internacional de Estudos Mediterrânicos e Orientais (ISMEO) e da Universidade Ca' Foscari de Veneza, em colaboração com uma equipa multidisciplinar especializada em geologia, química, arqueologia e história da arte da Universidade de Pádua, resolveu o mistério da origem do famoso leão num estudo que acaba de ser publicado. E seria precisamente na China.

Uma análise metalúrgica recente do bronze de que foi feito o leão revelou que alegadamente grande parte do metal veio da China do século VIII. De acordo com os investigadores, foi trazido para Veneza através do comércio ao longo da Rota da Seda. O estudo explica que, quando chegou à cidade, o metal foi combinado com outros elementos e reconstruído para corresponder à iconografia mais reconhecível do leão alado, símbolo de Veneza e do evangelista São Marcos.

Os leões de Tang

Esta não é, no entanto, a primeira investigação sobre esta peça. Um estudo efectuado após um restauro na década de 1980 afirmava que a estátua tinha sido feita na Anatólia durante o início do período helenístico (século IV a.C.). No entanto, o estudo recente dos isótopos de chumbo na liga metálica revelou que a sua origem deveria ser procurada nas minas do curso inferior do rio Yangtze, no sudeste da China.

Os investigadores reexaminaram o desenho do leão e encontraram características muito próprias das esculturas da Dinastia Tang (618-907), principalmente na cabeça, na juba e no peito. Para além da semelhança, os resultados da análise indicam que a estátua é provavelmente uma reconstrução do que foi originalmente um zhènmùshòu (guardião do túmulo) fundido durante o período Tang. Estas figuras destinavam-se a afastar os ladrões de túmulos e a transportar a alma do falecido para o além.

O pai e o tio de Marco Polo

Algumas das características comuns ao leão e ao zhènmùshòu são as narinas largas, o bigode virado para cima, os maxilares bem abertos com um par de caninos separados no maxilar superior e outros mais estreitos no maxilar inferior. As têmporas do leão são truncadas, o que indica que o leão já teve chifres e que estes podem ter sido retirados para lhe dar um aspecto mais semelhante ao do leão. As orelhas também parecem ser cortadas e arredondadas.

A descoberta levantou muitas questões sobre a chegada da peça da China. Pensa-se que a estátua do leão, que já estava presente no topo da coluna quando Marco Polo regressou da sua viagem em 1295, pode ter chegado a Veneza em fragmentos, e especula-se que possa estar ligada às viagens do pai de Marco Polo, Nicolò, e do seu tio Maffeo, que visitaram a corte do Grande Khan em Pequim entre 1264 e 1266.

2024-09-18T15:37:22Z dg43tfdfdgfd