ASSIM SE PREPARA, PASSO A PASSO, A RECEITA MAIS ANTIGA DA HISTóRIA

Se é uma daquelas pessoas que rejeitam as inovações gastronómicas e adoram pratos caseiros e tradicionais, hoje trocamos o menu de um sofisticado menu de degustação por uma tabuinha originária da Mesopotâmia com nada mais nada menos do que 4.000 anos. Nela ficou registada – em escrita cuneiforme – uma das receitas mais antigas do mundo.

Tal como lhe contamos neste artigo, esta região mediterrânica não é apenas o berço da civilização, mas também da gastronomia: por outras palavras, foi ali que o ser humano deixou de comer apenas com a intenção de subsistir e descobriu que a alimentação também pode ser um prazer e até uma arte!

A atribuição do valor cultural da comida aos babilónios – ou seja, a primeira evidência de transmissão de conhecimento culinário às gerações futuras – deve-se a uma descoberta realizada por Jean Bottéro. Este historiador da Universidade de Yale traduziu um conjunto de 25 tabuinhas cuneiformes e descobriu que se tratava de um livro de receitas.

Uma vez que os ingredientes são fáceis de adquirir, porque não tentar reproduzir um dos pratos? Foi o que pensou um grupo interdisciplinar daquela instituição em 2018, colocando a tabuinha na bancada e deitando mãos à obra (literalmente). Escolheram três receitas para o seu projecto: dois guisados de borrego, um com beterraba e outro com leite e bolos de cereais, e uma receita vegetariana enriquecida com pão de cerveja.

Quer experimentá-las em casa? Explicamos-lhe, passo a passo, como preparar uma delas.

A RECEITA Mais ANTIGA Da HISTÓRIA: INGREDIENTES E PREPARAÇÃO

Estes são os ingredientes necessários para elaborar o guisado babilónico de borrego com beterraba:

Quantidade

Ingrediente

450 gramas

perna de borrego cortada em cubos pequenos

1/2 chávena

banha de ovelha derretida

1/2 colher de chá

sal

1 chávena

cerveja

1/2 chávena

água

1

cebola pequena picada

1 chávena

rúcula picada

1 chávena

cebolinho

1/2 chávena

coentros frescos picados

1 colher de chá

cominhos

450 gramas

beterraba vermelha fresca, pelada e cortada em cubos pequenos

1/2 chávena

alho-francês picado

2

dentes de alho

2 colheres de chá

sementes de coentro secas

1/2 chávena

coentro finamente picado

1/2 chávena

kurrat ou alho-francês silvestre picado

Durante o projecto, o modo de preparação foi supervisionado pelos especialistas em história culinária Gojko Barjamovic e Nawal Nasrallah e é o seguinte:

1. Aqueça a banha numa caçarola suficientemente grande para conseguir dispor o borrego em cubos numa camada.

2. Acrescente o borrego e aloure-o em lume alto, até toda a humidade se evaporar.

3. Junte a cebola e continue a cozinhar até estar quase transparente.

4. Incorpore a beterraba, a rúcula, os coentros, o cebolinho e os cominhos. Continue a mexer até a humidade se evaporar e os ingredientes emitirem um aroma agradável.

5. Acrescente a cerveja. Junte água. Agite ligeiramente a caçarola. Levante fervura.

6. Reduza o lume e acrescente o alho-francês e o alho, esmagado num almofariz.

7. Deixe o guisado ferver em lume lento, durante cerca de uma hora, até o molho espessar.

8. Pique o kurrat e os coentros frescos e esmague até obter uma pasta num almofariz.

9. Sirva nos pratos e polvilhe com sementes de coentro secas e a pasta de kurrat e coentros. O prato pode ser acompanhado com bulgur (um derivado do trigo) ao vapor e pão naan.

UMA RECEITA HISTÓRICA REQUER ESTUDO

Já Platão dizia no século IV a.C.: “Quem participa num banquete sem nada saber da arte culinária não consegue apreciar devidamente a confecção dos alimentos que lhe servem”. Queria ele com isto dizer que, para preparar e degustar devidamente uma receita, é necessário conhecer a origem e a história dos seus ingredientes, bem como o contexto no qual começou a ser confeccionada e como chegou até aos dias de hoje.

Transformados em chefes de cozinha, os investigadores deste projecto tiveram isso em mente e realizaram previamente um trabalho de compilação de dados que permitiu obter um prato muito fiel ao que era servido nos palácios da Mesopotâmia. “A nossa ideia era rever as traduções antigas e descobrir onde podíamos melhorar o nosso conhecimento da terminologia e aproximarmo-nos de uma melhor compreensão destas receitas”, disse num comunicado Agnete Lassen, curadora associada da Colecção Babilónica de Yale.

A equipa explicou que conseguiu sentir-se realmente ligada “às pessoas daquela época” através dos sabores, “que eram proeminentes e populares”, corroborando mais uma vez a teoria de que a gastronomia pode revelar pormenores fascinantes sobre a cultura de qualquer civilização: “creio que isso nos ajuda a contar a sua história”, concluiu a líder do projecto. 

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