NO PORTUGIESENVIERTEL DE HAMBURGO COME-SE COMIDA PORTUGUESA, FALA-SE EM PORTUGUêS E ESPERA-SE PELA SELEçãO: “SE GANHARMOS ISTO VAI ESTOURAR”

Bem junto ao porto de Hamburgo está um bairro muito especial, que leva o nome da nacionalidade de muitos dos seus moradores. A presença portuguesa na cidade remonta ao século XVI, mas nos anos 60 do século passado muitos chegaram para trabalhar no mar e foram ficando, abrindo restaurantes e cafés, onde se comem especialidades nacionais e se fala da seleção, que joga em Hamburgo frente a França na 6.ª feira. Vive-se com expectativa por estes dias no Portugiesenviertel, pela festa que esperam ver nas ruas. E pela admiração a Cristiano Ronaldo

Entre a Alemanha e Portugal, há muitas viagens de ida e volta. O Rickmer Rickmers, pintado de verde e vermelho, dá-nos as boas-vindas ao porto de Hamburgo. É neste momento um navio-museu, mas está escrito na história dos dois países. Construído na Alemanha, no final do século XIX, fez parte da marinha mercante do país até ser arrestado por Portugal durante a Primeira Guerra Mundial. Tornou-se então no segundo Navio-Escola Sagres, entre 1927 e 1962. Em 1983, regressou à casa de partida, a Hamburgo, recebendo novamente o seu nome original.

Voltados para terra, se olharmos à direita do Rickmer Rickmers, vemos a monumental Elbphilharmonie, sala de concertos com uma das melhores acústicas do mundo, garantem. Tem forma de onda, de mar encrespado, e está virada para o Rio Elba que tanto significa para esta cidade, a segunda da Alemanha, onde Portugal joga na 6.ª feira com a França uma possível passagem às meias-finais do Euro 2024. E, se olharmos e caminharmos em frente a partir do antigo barco de cores nacionais, vamos parar ao Portugiesenviertel. O nome não engana: é o bairro português de Hamburgo.

Há portugueses em todo o mundo, mas não haverá muitas cidades onde a sua presença é tão concentrada e onde o nome do bairro acabou adaptado. Na Rua Ditmar Koel e suas adjacentes há cerca de 40 restaurantes, pastelarias e cafés portugueses, com nomes a condizer: Porto, a Varina, O Farol, Lusitano, Praça de Coimbra, Olá Lisboa, Casa Madeira, entre outros. O português é língua-franca: fala-se nas esplanadas, entre quem se cruza nas ruas. Ruas essas que se encheram de pessoas em festa depois de Portugal bater a Eslovénia na última segunda-feira.

Uma presença centenária

É preciso recuar vários séculos para encontrar os primeiros vestígios da presença portuguesa em Hamburgo. Muitos judeus portugueses fugidos à Inquisição encontraram aqui refúgio e cedo se integraram na vida da cidade, importante porto comercial da Liga Hanseática. Existia até o portugaleser, uma moeda não-oficial, mas que até ao século XVII circulava no norte da Alemanha e ainda hoje é oferecida como medalha de condecoração. Uma estátua de Vasco da Gama e uma praça com o seu nome, também na zona do porto, atestam a centenária presença portuguesa em Hamburgo.

Já em meados do século XX chegaram os portugueses fugidos da pobreza e da ditadura. Encontraram empregos nos estaleiros e em fábricas, aceitando os trabalhos mais duros e pesados, a carregar carvão, café, materiais perigosos. Em 1964, com o acordo laboral entre Alemanha e Portugal, começaram a chegar os gastarbeiter, trabalhadores convidados. A estadia seria temporária, mas muitos ficaram. Como o pai de Luís Manuel Pacheco, agente de seguros de boa parte dos residentes de Portugiesenviertel e presidente da Associação Luso-Hanseática, que promove a língua portuguesa, a comunidade e a cultura, através de conferências, exposições e eventos gastronómicos, entre outros. Tem ainda uma revista, a “Portugal-Post”. Se Hamburgo tem uma rua com o nome de Amália Rodrigues, à Associação Luso-Hanseática o deve.

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